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terça-feira, 8 de maio de 2007

Encoberto...


… o momento era inevitável… «Que se passa? Não me escondas esse porquê!»… Pensou «não, não o posso fazer…» e não o podia… um valor sempre foi superior nele e para ele… «Não, é mentira…». É verdade… aquela desculpa era mentira… mais uma… mais um subterfúgio… um porto de abrigo… mais uma tentativa de esconder tudo o que estava à vista de todos, de ganhar mais algum tempo para ponderar como poderia deixar quem a sua performance estava a encobrir fora de toda aquela história.

Pôs o cérebro a funcionar… «Pensa, tu és capaz… prova-o… não deixes que o apanhem a ele…». Novo encobrimento, novo fracasso… Estava a perder as energias… «Tu és forte»… não, não era. Mas não poderia deixar… «É a vida e o fundo dele… é o mundo dele».

SILÊNCIO

… novamente o silêncio… aprendeu a ter respeito por ele… mas neste momento…

«O medo vai ter tudo…»

É o medo… o medo desse silêncio que o assola… Quer fugir desse silêncio, acabar com aquele extermínio mental… «Não, não o faças. Não o denuncies… ele… ele… ele…» Ele sabia-o… ele desapareceria… o outro desapareceria… Seria envolto no silêncio, obrigado a entrar dentro dele sem ter a mais ténue possibilidade de lhe fugir… escapar… correr… Seria literal e totalmente engolido por ele… pelo silêncio… e afastado de um mundo só seu, um mundo que se confundia com ele próprio.

O silêncio magoava como punhais que lhe penetravam a carne de uma forma lenta e, quase jurava, compassiva…

»Não posso…» pensou. «Mas também não suporto»… ESPADA… PAREDE… parede… espada… lá fora observava… via… o silêncio… o exílio… PAZ…

As palavras tomaram forma na sua cabeça. «Não, só te vais prejudicar a ti…» A sua boca começou a abrir-se… «Pára! Ainda vais a tempo… não tens que levar com tudo porque não estiveste sozinho… a culpa não foi tua…»

Tarde demais… o som… as palavras… já tinha atravessado o espaço e por ele se tinha propagado… o CLICHÉ… sim, o cliché usado. A salvação de um… o momento de morte, pelo menos de um tipo de morte, para outro… E, pela primeira vez na sua existência, usou um cliché… uma mentira mais abundante neste mundo que relva verde e fresca num pasto idílico e ameno… mais abundante que água salgada num dos oceanos…

Está mais ou menos calmo… no exílio, apartado daquilo porque lutou e trabalhou para que se concretizasse… ganhasse forma… e se materializasse no tempo e no espaço… MAS:.. aliviado… ele, o outro, continuou lá… pensou «As minhas palavras poderiam ter sido fatais para ele… mas não!» Preferiu que lhe espetassem uma estaca a que os amordaçassem aos dois… a ele e ao outro…

Agora, vai caminhando… e pela primeira vez na sua vida chora «porque o amou, porque o perdeu»… pena ainda não lhe ter aparecido um «ZÁS… e volta a…».

Onde está existe o lugar, o tempo, o silêncio e a espera para dele sair… continua… Ele continua ali… no silêncio… «Todavia tenho esperança… JURO…» jura ter esperança de um dia contar uma história… a história… aquela que realmente teve um lugar, um espaço… um AQUI E AGORA… mas já distante… Para isso espera… nesse lugar… apegado… desapegado… conforme as marés e as fases da lua. E espera que esse dia… o dia… enfim chegue…

«Trepar uma encosta íngreme requer passos demorados no início»… ele espera… espera um dia poder chegar ao cimo… até lá vai aprendendo a conviver… gatinhando.

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