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terça-feira, 30 de outubro de 2007

Reset

Hoje chorei... mais uma vez... outra vez...Chorei
Senti-me vazio, oco, sem capacidade de reacção... sem possibilidades de dizer não, «chega, basta, pum». Os meus dantas são quase impossíveis de fazer desaparecer de mim próprio... antes pelo contrário... sinto-os como prolongamentos do meu próprio corpo. Como apêndices que se quer cortar mas que não se consegue... como um cancro que se vai alastrando, consumindo cada vez mais energia e vida de mim...

Olho-me ao espelho... a pergunta, por mais cliché que seja, impõe-se... «Quem sou eu?», ou melhor, «Quem é este em que a pouco e pouco e sem lutas me tornei?», «Que posso esperar de mim... ou melhor... será que posso esperar algo de mim?»

Recordo-me de Francisco de Assis diante do Crucifixo de S. Damião: «Que queres que eu faça?»... não... não é bem assim... reformulo... «Que posso eu fazer? Quem posso eu ser? Quem quero eu ser e em que me quero tornar? Para onde vou?»... ou melhor... «Para onde quero ir?»... não... «Para onde tudo isto me leva?»... são questões a que não sei nem me atrevo a dar respostas... as palavras tornam-se áridas e incómodas... a proximidade torna-se incómoda... a proximidade com o silêncio... com o vazio... Desisto!... o desejo de fugir, desaparecer, ou simplesmente de me anular...

Agora outro desejo... não... um pensamento... porque não possuímos um botão de reset... de reiniciar... com o qual pudessemos apagar tudo aquilo que já vivemos, sentimos... passámos... experiências... lugares... vivências... pessoas.... situações, explicações, expressões... emoções, ilusões, desilusões, novas ilusões, novamente desilusões... um reset que nos deixasse reinventarmo-nos por completo, a partir do zero, do início, da criação, da nossa construção enquanto pessoas, seres viventes... mas esse botão não existe... é uma mera utopia e ilusão... e é assim que vou vivendo... na ilusão da reinvenção, na ilusão de que um dia ganharei a coragem e a capacidade de me reinventar, de me modelar de novo... até lá... espero... desespero...

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

...


Porquê? Porque sim... porque tem de ser...

Mas porque tem de ser assim? Tem de ser assim simplesmente porque sim ou porque não ha coragem para encontrar alternativas?

Não, tem de ser assim porque sim... porque é a única forma, o último reduto.

Se tem de ser, que seja, mas que seja assim.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

40 e 1

Sentado... como me encontro agora... Agarrado a uma caneta de onde espero que escorram algumas palavras, algumas frases com nexo a que possa chamar de minhas... será possivel que isso aconteça? As folhas do caderno onde escrevo têm a inscrição «Happy Day» em todas elas. Mas terá sido este um dia feliz? Um daqueles dias em que «a carne derrete a tantos e tantos graus centígrados»? Não o foi, de certeza absoluta. Foi mais um dia, apenas mais um banal dia em que nada aconteceu, em que tudo se manteve exacta e precisamente na mesma... apenas mais um...

«Não ligues! Fsz-te de surdo!»... mas como ignorar os gritos estridentes e cavernosos do silêncio e da solidão? Como fugir deles? Como fugir da imensa banalidade que, por mais que dela fuja, teima em engolir-me por completo, sugando toda e qualquer força do meu corpo... tornando em mais um, apenas mais um, mais um ser anónimo, desinteressante e anulado perante este emaranhado de pessoas.

A noite foi surgindo... procurei um refúgio. Não! Já não o meu quarto. Outro... um refúgio na cidade... um refúgio onde me pudesse sentir acompanhado... onde pudesse respirar outras vidas, quem sabe mais interessantes que a minha. Mas não. Enganei-me por completo... tenho a mania de pensar que há por aí mais como eu, desprovidos daquilo a que hoje se convencionou chamar de «vida própria»... música, conversas, murmúrios, ruido, som de copos a bater nas mesas, dois que jogam às cartas, três que conversam, partilham vidas e vivências, reflectem sobre as suas experiências e... e... e... e eu... novamente eu... sozinho... sozinho... apagado, anulado... SMS... Não, era apenas alguém a pedir-me algo... a companhia mantém-se a mesma, invariavelmente, todas as noites... hoje, agora, à pouco, depois e... e... e sempre... a companhia de mim mesmo... aquela com quem sempre pude contar. Eu e eu, comigo. Um »me, myself and I» muito mais solitário do que esperançoso... E as folhas ainda têm a coragem de me brindar com um «you have touched so many hearts»... como será isso possivel se nem a mim mesmo posso e consigo chegar? I can't even touch my heart... How can I touch yours?

Mais uma vez recordo Maria Guinot... olho à minha volta e constato... Silêncio e tanta gente...

Foto: To want more
Copyright: Belard
belard.deviantart.com